segunda-feira, 9 de maio de 2011

QUAL É A TUA OBRA ? - Mario Sergio Cortella


Postado por  Ronaldo.








Na página 20,

Eu me vejo naquilo que faço, não naquilo que penso. Eu me vejo aqui, no livro que escrevo,  na comida que eu preparo, na roupa que eu teço (...)
Vejo o meu filho como minha obra, vejo um jardim como minha obra. Do contrário, ocorre o que Marx chamou de alienação: todas as vezes que eu olho o que fiz como não sendo eu, ou não me pertencendo, eu me alieno. Fico alheio. Portanto, eu não tenho reconhecimento. Esse é um dos traumas mais fortes que se tem atualmente.

Todas as vezes que aquilo que você faz não permite que você se reconheça, seu trabalho se torna estranho a você. As pessoas costumam dizer “não estou me encontrando naquilo que eu faço”, porque o trabalho exige reconhecimento – conhecer de novo


Na página 29,

Só seres que arriscam erram. Não confunda erro com negligência, desatenção e descuido. Ser capaz de arriscar é uma das coisas mais inteligentes para mudar. Você não tem de temer o erro. Tem de temer a negligência, a desatenção e o descuido. Erro é para ser corrigido, não punido. O que se pune é negligência, desatenção e descuido. Thomas Edison fez 1.430 experimentos antes de chegar à lâmpada elétrica de corrente contínua. Ele inclusive registrou: inventei 1.430 modos de não fazer a lâmpada.


Na página 31,

Qual o contrário de humildade? Arrogância. Gente arrogante costuma dizer: “Há dois modos de fazer as coisas, o meu ou o errado. Ama-me ou deixa-me, Escolha você”. Gente arrogante não ouve discordância e não consegue crescer. Nós somos um animal arrogante. Há pessoas que se recusam à mudança porque acham que já estão prontas.


Na página 100,

Ser capaz de construir o futuro é pensar nas estratégias, nas condições e nas possibilidades. ... uma frase que circula por aí, que diz que uma pessoa quanto mais ela vive mais velha ela fica. Uma pessoa, para que quanto mais ela vivesse mais velha ficasse, teria de ter nascido pronta e ir se gastando. Isso não acontece com gente, isso acontece com sapato, com fogão, com geladeira. Gente nasce não-pronta e vai se fazendo. Eu não nasci pronto e vim me gastando. Eu nasci não pronto e vim me fazendo. Eu não sou inédito. Porque, para isso, o processo para eu me fazer teria de ser linear e não é. Ele é quase elíptico, algumas coisas eu trouxe comigo, outras eu deixei no passado. Não sou inédito, mas novo.


Na página 117:

Gente arrogante é gente que acha que já sabe, que ela é o único tipo de ser humano válido que existe. Gente arrogante se relaciona com o outro – por conta do dinheiro que carrega, por conta do nível de escolaridade, por conta da posição social,  por conta do sotaque que tem – como se o outro não fosse outro. Fosse menos. Isso apequena a vida e apequena a alma, se se entender a alma como sua identidade.

Gente arrogante é incapaz de prestar atenção. Você está dialogando com o arrogante, ele não presta atenção no que você está falando. Ele só está esperando você parar para ele continuar falando. O arrogante esquece uma frase do grande teólogo catarinense Leonardo Boff, que diz  que “um ponto de vista é a vista a partir de um ponto”. A ética, entre outras coisas, nos obriga a perceber essa multiplicidade de pontos de vista. O arrogante acha que só tem um ponto de vista que vale: o dele.

O arrogante é incapaz de ter a razão central da ética: a visão da alteridade. É a capacidade de ver o outro como outro, e não como estranho. Os latinos tinham uma expressão para “eu”, que era ego. E usavam duas para falar de não-eu: uma é alter, que significa “o outro”, mas usavam também alius, para indicar “o estranho”.

Visão de alteridade é a capacidade de ver o outro como outro, e não como estranho. Há pessoas que só conseguem olhar o outro como estranho – alien, alheio – , não como outro. A arrogância é uma coisa absolutamente complicada para isso, porque ela acaba marcando alguém pela incapacidade de ter a visão de alteridade.


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Biblioteca UNIPAMPA campus SG

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